sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Muwaji


Amalé hoje com quatro anos. Logo que nasceu, às 7 horas de 21 de novembro de 2003, ele foi enterrado vivo pela mãe, Kanui. Seguia-se, assim, um ritual determinado pelo código cultural dos kamaiurás, que manda enterrar vivo aqueles que são gerados por mães solteiras. Para assegurar que o destino de Amalé não fosse mudado, seus avós ainda pisotearam a cova.

Ninguém ouviu sequer um choro. Duas horas depois da cerimônia, num gesto que desafiou toda a aldeia, sua tia Kamiru empenhou-se em desenterrar o bebê. Ela lembra que seus olhos e narinas sangravam muito e que o primeiro choro só aconteceu oito horas mais tarde. Os índios mais velhos acreditam que Amalé só escapou da morte porque naquele dia a terra da cova estava misturada a muitas folhas e gravetos, o que pode ter formado uma pequena bolha de ar.


A Funai esconde números e casos como este, mas os pesquisadores já detectaram a prática do infanticídio em pelo menos 13 etnias, como os ianomâmis, os tapirapés e os madihas. Só os ianomâmis, em 2004, mataram 98 crianças. Os kamaiurás, a tribo de Amalé e Kamiru, matam entre 20 e 30 por ano.

Aloysio Guapindaia, presidente em exercício da Funai, em resposta por escrito à ISTOÉ...

“Não é verdade que entre os povos indígenas há mais violência e mais crueldade com seus infantes do que na população em geral”, “O tema, tratado de uma forma superficial, transparece preconceito em relação aos costumes dos povos indígenas”


Os motivos para o infanticídio variam de tribo para tribo, assim como variam os métodos usados para matar os pequenos. Além dos filhos de mães solteiras, também são condenados à morte os recém-nascidos portadores de deficiências físicas ou mentais. Gêmeos também podem ser sacrificados. Algumas etnias acreditam que um representa o bem e o outro o mal e, assim, por não saber quem é quem, eliminam os dois. Outras crêem que só os bichos podem ter mais de um filho de uma só vez.


Há motivos , como casos de índios que mataram os que nasceram com simples manchas na pele – essas crianças, segundo eles, podem trazer maldição à tribo. Os rituais de execução consistem em enterrar vivos, afogar ou enforcar os bebês. Geralmente é a própria mãe quem deve executar a criança, embora haja casos em que pode ser auxiliada pelo pajé.
“É um absurdo fechar os olhos para o genocídio infantil, sob qualquer pretexto”, diz Edson Suzuki, diretor da ONG Atini. “Não se pode preservar uma cultura que vai contra a vida. Ter escravos negros também já foi um direito cultural”, compara. Suzuki cria a garota Hakani, dos surwahás do Amazonas. Ela hoje tem 13 anos. A menina nasceu com dificuldades para caminhar. Os pais se recusaram a matá-la; preferiam o suicídio. O irmão mais velho, então com 15 anos, tentou abatê-la com golpes de facão no rosto, mas ela sobreviveu.
Circula pelo congresso o Projeto de Lei Muwaji que visa punir os responsáveis.

Reportagem feita pela Revista ISTOÉ

Entendo que cada povo tem seus costumes, suas tradições. Em nossa sociedade dita "civilizada" existem atitudes horríveis, inacreditáveis, além da minha compreenção como essa. Muitos indios são contra esses costumes, também lutam para que isso acabe. Como Muwaji.

Ela nunca se conformou com a morte dessas crianças. Ainda adolescente começou a desafiar atradição e o senso comum de seu povo e tentar salvar esses bebês. Criativa como era, encontrava sempre maneiras de manter o bebê vivo por mais tempo enquanto tentava convencer a mãe a aceitar a criança, e teve sucesso em muitos casos.

Acredito que são atitudes assim como as de Muwaji e de tantas outras indias e indios que enfrentam tudo, vão contra os costumes, quebram as regras. Que esse problema pode ser resolvido. E não com uma lei imposta pelo governo.

O que o Governo, a FUNAI podem fazer é dar apoio aqueles que vão contra a tribo e são expulsos, ficam isolados na floresta. Eles teriam que ter um lugar para onde ir. Talvez isso resolvesse, se não todas pelo menos muitas crianças seriam salvas.

By Eliane




Muwaji, essa sim é uma Guerreira!

2 comentários:

Jaqueline Sales disse...

Tocante, Eliane. Tenho muito respeito pelos povos indígenas, e sempre digo que, se existirem encarnações anteriores, com certeza já fui indígena. Sei, porém, que acontecimentos assim são comuns em muitas tribos, e tantas outras diferenças em costumes, ritos e crrenças nos separam, mas acho que eles também pensam assim de nós. Também fazemos coisas com as nossas crianças dos quias envergonham todos. Gostaria de viver numa sociedade que respeitasse todos os costumes, povos e tradições, mas é bem verdade que seria melhor se atrocidades dessa natureza não acontecessem, né?

BeijUivoooooooooooossssss da Loba

Anônimo disse...

Este tipo de informação não sai na grande imprensa,Eliane. Fiquei pasmo!!